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Sexta, 05 Mai 2017 10:47

O reencontro da Misericórdia e da Justiça (Salmo 85.10)

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salmo85 misericordia justica

Misericórdia e verdade se encontraram
Justiça e paz se beijaram.

Há muito, nos primórdios dos tempos, duas irmãs, Misericórdia e Justiça, conviviam juntas numa linda, florida e arborizada colina. As pessoas que ali habitavam desfrutavam, todas de igual modo e equitativamente, dos frutos tanto da Misericórdia quanto da Justiça. E tudo ia muito bem no convívio harmonioso entre todos.

Mas um dia a majestosa colina sofreu um abalo sísmico, abalo provocado por uma fratura em sua base, o abalo do mal. E o mal cindiu o monte ao meio dividindo-o, assim, em dois lados. E as pessoas ficaram divididas nas duas extremidades. E criou-se um abismo entre as duas partes da ferida montanha.

Recuperados do choque os homens tentaram voltar à normalidade da vida. Porém, logo descobriram, estarrecidos, que as irmãs gêmeas haviam sido separadas também. Misericórdia ficara de um lado e Justiça do outro. Isoladas, desse jeito, elas não podiam mais agir juntas em favor dos seres humanos. Desconectadas pelo intransponível fosso, agora não sabiam como operar uma sem a outra.

E os anos se passaram sem que os homens dos dois lados pudessem, outra vez, desfrutar dos bens da Justiça e da Misericórdia. E de um lado da colina só justiça, rigorosa e inflexível. Do outro lado, apenas misericórdia, condescendente e flexível. Cada parte dos habitantes desunidos pela cisão usufruía apenas de uma e de outra. Do lado da Misericórdia não havia justiça. Da banda da Justiça não tinha misericórdia. Frouxidão ou rigor, condenação ou absolvição, complacência ou intolerância. Tudo era desequilíbrio e desarmonia, em ambas as extremidades.

Então, um belo dia, o Criador de colinas, ao ver a aflição na qual viviam as partes, enviou o seu melhor construtor de pontes para reconectar os dois lados e restabelecer a estabilidade há muito perdida. Entrementes, o edificador de conexões estendeu uma tênue, frágil e delicada linha entre as duas bordas do abismo para que as duas irmãs pudessem circular livremente entre as duas extremidades. E assim se fez.

Entretanto, havia somente uma limitação e uma única exigência que as irmãs deveriam observar para poderem atravessar de um lado para o outro. A limitação era que na linha só tinha lugar para passar uma das irmãs de cada vez. A exigência era que ambas deveriam cruzar a linha ao mesmo tempo, pois assim nem um lado nem outro ficaria privado de uma ou de outra. Quase um paradoxo!

As gêmeas puseram-se a meditar na melhor forma de superar essa limitação e, ao mesmo tempo, satisfazer a exigência. Por mais paradoxal que poderia parecer, elas resolveram que cada uma sairia do seu lado simultaneamente e se encontrariam no meio. E assim foi.

Num dia de sol radiante, Misericórdia acenou para sua irmã Justiça dando o sinal para que iniciassem a travessia. E caminharam com cuidado sobre a tênue, frágil e delicada linha que, enfim, as reuniria outra vez desde a fissura de tempos idos. Cautelosas elas olhavam uma nos olhos da outra até se aproximarem e ficarem a um corpo de distância. Justiça olhou para sua irmã com os olhos ternos e marejados e abriu os braços. Misericórdia mirou sua gêmea como a um espelho e estendeu seus braços em sua direção. Justiça e Misericórdia se abraçaram, comovidas pelo reencontro após tanto tempo de separação. Misericórdia e Justiça se beijaram, emocionadas pelo reencontro depois de tanta ausência. E entre beijos e abraços rodopiaram e atravessaram cada um para o outro lado.

E assim a cena do reencontro das irmãs na linha tênue, frágil e delicada tem se repetido cada vez que aplicamos a justiça com misericórdia e a misericórdia com justiça.

Ler 8108 vezes Última modificação em Terça, 26 Dezembro 2017 15:02
jrcristofani

José Roberto Cristofani - Casado com Cida Crema Cristofani. Pai, Pastor, Professor de Teologia. Educador, Escritor, Especialista em Educação a Distância e Doutor em Antigo Testamento.